Seu Casamento e o Sermão da Montanha, Paul K. Browning (A Liahona, set/1995, p. 28)
Há alguns anos, Rick e Jane procuraram um conselheiro matrimonial em busca de ajuda para resolverem questões que estavam destruindo seu casamento. O conselheiro ouviu suas histórias. Ambos lhe contaram como se sentiam injustiçados um pelo outro. Seus ressentimentos eram tão profundos que o conselheiro não via meio de eles se reconciliarem. No esforço de ajudá-los a encontrar soluções, contudo, lembrou-se do Sermão da Montanha e de que o Presidente Harold B. Lee o chamara de “a constituição para uma vida perfeita”. [Decisions for Successful Living (Decisões para Um Viver Bem-Sucedido), Salt Lake City: Deseret Book Company, 1973, p. 57.]
O conselheiro deu uma Bíblia ao casal e pediu-lhes que a abrissem em Mateus, capítulos 5 a 7. “Prometem-me que lerão o Sermão da Montanha inteiro em voz alta, juntos, três vezes esta semana?”, perguntou. “E que, todas as vezes, depois de lê-lo, especificarão pelo menos uma coisa que precisam mudar, a fim de se harmonizarem com esses ensinamentos? Lembrem-se de que não devem apontar o que o outro precisa mudar. Concentrem-se no que devem fazer individualmente”. Eles hesitaram, mas concordaram.
Na semana seguinte, retornaram mais amigos um do outro. Estavam prontos para começar a condescender e cooperar. Pelo menos três coisas haviam resultado do cumprimento da tarefa: Primeiro, ler as escrituras juntos devolvera o Espírito ao casamento deles; segundo, a tarefa forçara cada um a analisar seus próprios motivos e comportamentos, em vez dos do outro; e, terceiro, eles cumpriram a tarefa sem brigar.
O Sermão da Montanha ensina muitos princípios que podem ajudar qualquer casamento, problemático ou não. Gostaria de examinar quatro desses princípios.
Perdoar um ao outro
Richard e Carol eram casados há vinte anos quando, pela primeira vez, foram ver um conselheiro matrimonial para resolver suas dificuldades. Carol queixou-se de que Richard era cruel, manipulador, insensato e mal-humorado. O conselheiro pensou que ouviria uma história diferente de Richard, mas surpreendeu-se ao ver que ele concordava com Carol. Mais tarde, soube que Richard sofria de baixa auto-estima e compensava isso tentando controlar Carol e os filhos. Richard reconheceu que precisava de ajuda e disse que estava ansioso para mudar.
Ao longo de um ano, o conselheiro observou Richard ficar gradualmente mais bondoso e sensato. Feliz com as próprias mudanças, Richard sentia-se bem consigo mesmo. Ainda assim, Carol entrou com o pedido de divórcio. Embora fosse verdade que Richard a tratara indevidamente no passado, ele se arrependera e mudara. A ferida de Carol, entretanto, era profunda, e ela não conseguiu perdoá-lo.
A história de Richard e Carol não é incomum. Muitos casais guardam rancores durante anos, às vezes valendo-se de mágoas passadas como justificativa para punirem um ao outro. Sua relutância em perdoar sufoca a comunicação, e a interação entre os dois torna-se artificial.
O Salvador ensinou: “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai Celestial vos perdoará a vós;
Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas.” (Mateus 6:14-15)
O casamento pode ruir sob o peso de ofensas não-perdoadas, exatamente como aconteceu com Richard e Carol. O Salvador sugere uma alternativa: “Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele.” (Mateus 5:25) Isso não quer dizer que devamos sempre ceder ou deixar nosso cônjuge aproveitar-se de nós; significa que devemos encontrar maneiras de chegar a um acordo ou dizer clara, mas calmamente, como nos sentimos a respeito dos atos de nosso cônjuge. E, como é impossível sabermos o que há por trás do comportamento das pessoas ou os desafios que elas enfrentam, o Senhor diz: “De vós se requer que perdoeis a todos os homens.” (D&C 64:10)
FUNDAMENTOS DO PERDÃO
1. Veja a situação do ponto de vista de seu cônjuge.
2. Ponha-se no lugar do seu cônjuge e pense no quanto gostaria de ser perdoado.
3. Lembre-se de todas as coisas boas sobre seu cônjuge. Os pontos positivos quase sempre pesarão mais que os negativos.
4. Fale somente quando sentir que está no controle de suas emoções.
5. Não se preocupe em saber quem está certo e quem está errado.
6. Busque o Espírito Santo. Ele o ajudará a perdoar.
Percorrer a segunda milha
Jim e Marian passavam muito tempo determinando quem contribuía mais para o sucesso de seu casamento. Acreditavam que a relação matrimonial só funcionaria se cada um desse 50% (do resultado esperado). Nenhum deles sentia que o outro estava sendo justo. Ambos estavam constantemente insatisfeitos com o pouco que o outro dava ao casamento.
Há muito tempo, o Senhor forneceu a solução para esse problema:
“E, ao que quiser pleitear contigo e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa;
E, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.
Dá a quem te pedir, e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes.” (Mateus 5:40-42)
Quando Jim e Marian passaram a preocupar-se com o quanto cada um podia dar, ao invés de receber, seu casamento começou a melhorar. Mórmon disse que “a caridade é o puro amor de Cristo (...)” e que “ a caridade não busca os seus interesses (...)” (ver Morôni 7:45, 47). Um princípio desse trabalho é encontrado no Sermão da Montanha: “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas.” (Mateus 7:12)
Para realizar esse trabalho, Jim e Marian precisavam saber o que realmente queriam. Marian era de natureza romântica e valorizava recados amáveis, uma flor de vez em quando e freqüentes lembranças de que era amada. Por seu lado, Jim achava que a melhor maneira de dizer “eu te amo” era consertando as coisas da casa, conservando o jardim bonito e dando segurança financeira à família. Nenhum desses dois pontos de vista é superior. Quando aprenderam que a “linguagem do amor” era diferente para cada um, começaram a falar a língua um do outro. A conseqüência disso foi que passaram a achar que as contribuições de cada um para o casamento eram eqüitativas.
FUNDAMENTOS DA EQÜIDADE NO CASAMENTO
1. Concentre-se no que pode dar ao seu cônjuge.
2. Não fique mencionando o que deu e o que recebeu.
3. Seja sensível às necessidades de seu cônjuge e admita que elas podem ser diferentes das suas.
4. Aprenda a falar a “língua do amor” do seu cônjuge.
“Não julgueis”
Fred e Jean queriam comprar um aparelho doméstico novo. Visitaram juntos várias lojas e compararam vários modelos. Finalmente, encontraram um de que ambos gostaram, mas hesitaram em comprar devido ao preço alto. No dia seguinte, Fred voltou à loja e comprou o aparelho para Jean. Ele providenciou para que a entrega fosse feita num horário em que ela não estivesse em casa. Quando Jean chegou e viu o aparelho, ficou muito zangada. Acusou Fred de tê-la desconsiderado, deixando-a de fora da decisão final. Suas acusações levaram a uma briga.
O julgamento é uma constante fonte de conflito no casamento. Normalmente, como na história de Fred e Jean, os julgamentos são baseados em falsas suposições. Suposições e acusações podem gerar raiva e ressentimento.
O Senhor advertiu: “Não julgueis, para que não sejais julgados.
Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados (...).
E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho?” (Mateus 7:1-3)
Julgar o cônjuge severamente é indicação de que algo está faltando na vida de quem julga. Em vez de agir assim, deveríamos perguntar a nós mesmos: Por que esse comportamento ou essa atitude do meu cônjuge me importuna tanto? A resposta para essa pergunta nos ajudará a tirarmos a trave de nossos próprios olhos (ver Mateus 7:5) e a sermos menos propensos a ver faltas em nosso cônjuge.
FUNDAMENTOS PARA EVITAR JULGAMENTOS
1. Mantenha abertas as linhas de comunicação. Casais que conversam regularmente são menos propensos a ter desentendimentos sérios.
2. Espere de seu cônjuge só o que ele realmente é capaz de fazer.
3. Dê ao seu cônjuge o benefício da dúvida.
4. Lembre-se de que os pontos fortes e fracos das pessoas diferem. Cada um se desenvolve no próprio ritmo.
5. Procure mudar seus modos, e não os modos de seu cônjuge.
Tenha autocontrole
John e Cathy procuraram um conselheiro matrimonial em busca de ajuda. “John não consegue controlar seus nervos”, disse Cathy. “Está zangado o tempo todo e, normalmente, eu nem sei a razão”.
Ao longo da conversa, John foi ficando cada vez mais agitado. De repente, levantou-se e gritou: “Eu não tenho que ficar ouvindo isso! Você é que precisa de conselhos, não eu!” E retirou-se da sala, furioso, deixando Cathy pálida e trêmula.
É impossível termos o Espírito quando estamos nervosos. O Salvador disse aos nefitas que “o espírito de discórdia não é meu, mas é do diabo (...)” (3 Néfi 11:29). Quando deixamos a raiva entrar em nosso lar, deixamos Satanás introduzir cunhas entre os membros da família. A raiva se auto-sustenta; alimenta apenas nossas piores emoções.
O Senhor falou contra a ira no Sermão da Montanha: “Qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e qualquer que disser ao seu irmão: Raca, será réu do sinédrio; e qualquer que lhe disser: Louco, será réu do fogo do inferno.” (Mateus 5:22)
Reparem que essa escritura nos ordena que não participemos de xingamentos. Quantas vezes membros da família usam nomes e frases depreciativos para tentar machucar?
A alternativa para a raiva é o autocontrole. Isso não significa que nunca devamos expressar nosso descontentamento ou que devamos deixar de corrigir um comportamento ofensivo, mas, quando o fizermos, precisamos ter em mente que é o comportamento, e não a pessoa corrigida, que é ofensivo. O Senhor aconselha-nos a exercer “mansuetude e ternura, e (...) amor não fingido (...)
Reprovando (...) com firmeza, quando movido pelo Espírito Santo; e depois, mostrando um amor maior por aquele que repreendeste, para que não te julgue seu inimigo.” (D&C 121:41, 43)
As chaves são autocontrole e amor. Desenvolver esses atributos leva tempo e requer paciência.
FUNDAMENTOS PARA VENCER A RAIVA
1. Quando sentir-se zangado, pergunte a si mesmo: Quem se beneficiará se eu expressar minha raiva? Se uma crítica não beneficiar a pessoa a quem se dirige, não a faça.
2. Se for necessário reprovar, pratique o princípio da repreensão clara e sem demora, mostrando, depois, um amor maior para com a pessoa reprovada.
3. Não profira xingamentos, especialmente quando estiver zangado.
4. Trabalhe para melhorar seu autocontrole em outras áreas.
5. Procure ter constantemente a companhia do Espírito Santo. Não se pode sentir o Espírito do Senhor e o espírito de ira ao mesmo tempo.
O Sermão da Montanha pode ajudar
Há outros princípios do evangelho que ligam o Sermão da Montanha ao sucesso no casamento. Alguns deles são: servir ao próximo, ter paciência, ouvir, ser humilde e ter amor. O desenvolvimento desses atributos no casamento não acontece sem mais nem menos. O casamento forte é forte porque os dois trabalham para fazê-lo forte.
As escrituras dizem que o marido e a mulher tornam-se “uma carne” (Gênesis 2:24). Embora cada cônjuge retenha sua identidade, a vida e os anseios dos dois se misturam. O dom do Espírito Santo é nosso maior companheiro enquanto trabalhamos para conseguir essa unidade no casamento e colocar o “eu” a serviço do cônjuge. Tornando-nos mais unidos, nosso casamento torna-se mais celestial e ficamos mais perto do ideal estabelecido pelo Salvador no Sermão da Montanha: “Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.” (Mateus 5:48)
sexta-feira, 4 de março de 2011
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