sábado, 16 de maio de 2009

Acautelai-vos do Orgulho

Acautelai-vos do Orgulho (Ezra Taft Benson, A Liahona, julho de 1989, pp. 3-6.)

Meus amados irmãos, alegro-me por estar convosco em mais uma gloriosa conferência geral da Igreja. Sou profundamente grato pelo amor, orações e serviços dos devotados membros da Igreja no mundo inteiro.
Gostaria de elogiar os santos fiéis que se empenham por inundar a terra e a própria vida com o Livro de Mórmon. Precisamos não só distribuir, de forma monumental, mais exemplares do Livro de Mórmon, mas temos de promover corajosamente mais de suas maravilhosas mensagens em nossa própria vida e por toda a terra.
Esse sagrado livro foi escrito para nós – para os nossos dias. Suas escrituras destinam-se a ser aplicadas por nós. (Vide 1 Néfi 19:23.)
O livro de Doutrina e Convênios nos diz que o Livro de Mórmon é o “registro de um povo decaído”. (Vide D&C 20:9.) E por que ele caiu? Esta é uma das principais mensagens do Livro de Mórmon. Nos derradeiros capítulos desse registro, Mórmon dá a resposta nestes termos: “Eis que o orgulho desta nação, ou seja, do povo nefita, será a causa de sua destruição.” (Morôni 8:27.) E depois, para que não ignoremos essa significativa mensagem do Livro de Mórmon a respeito do povo decaído, o Senhor nos adverte em Doutrina e Convênios: “Precavei-vos contra o orgulho, para que não vos torneis como os nefitas de outrora.” (D&C 38:39.)
Peço sinceramente o benefício de vossa fé e orações ao procurar lançar luz sobre esta mensagem do Livro de Mórmon - o pecado do orgulho -, mensagem esta que me vem acabrunhando a alma já há certo tempo. Sei que o Senhor quer que essa mensagem seja transmitida agora.
No conselho pré-mortal, foi o orgulho que derrubou Lúcifer, o “filho da manhã”. (2 Néfi 24:12-15; vide também D&C 76:25-27; Moisés 4:3.) No fim deste mundo, quando Deus purificar a terra pelo fogo, os orgulhosos serão queimados qual restolho e os mansos herdarão a terra. (Vide 3 Néfi 12:5; 25:1; D&C 29:9; Joseph Smith 2:37; Malaquias 4:1.)
Em Doutrina e Convênios, o Senhor por três vezes usa a frase “acautelai-vos do orgulho", inclusive falando ao segundo élder da Igreja, Oliver Cowdery, e a Emma Smith, esposa do profeta. (D&C 23:1; vide também 25:14; 38:39.)
O orgulho é um pecado muito mal compreendido, e muitos pecam por ignorância. (Vide Mosias 3:11; 3 Néfi 6:18.) Nas escrituras, o orgulho nunca é considerado justo - sempre é pecado. Portanto, não importa como o mundo empregue o termo, temos de compreender o sentido que Deus lhe dá para entendermos a linguagem dos escritos sagrados e deles tirar proveito. (Vide 2 Néfi 4:15; Mosias 1:3-7; Alma 5:61.)
Muitos de nós consideramos o orgulho como sendo egocentrismo, convencimento, jactância, arrogância ou soberba. Tudo isto faz parte do pecado, mas continua faltando a essência, o cerne.
O cerne do orgulho é a inimizade - inimizade para com Deus e para com o próximo. Inimizade quer dizer “ódio, hostilidade ou oposição”. É o poder pelo qual Satanás quer reinar sobre nós.
O orgulho é essencialmente competitivo, por natureza. Lançamos nossa vontade contra a de Deus. Quando lançamos nosso orgulho contra Deus, é no sentido de “seja feita a minha vontade, e não a tua”. Conforme dizia Paulo, eles “buscam o que é seu, e não o que é de Cristo Jesus”. (Filipenses 2:21.)
Nosso desejo de competir com a vontade de Deus dá vazão desenfreada aos desejos, apetites e paixões. (Vide Alma 38:12; 3 Néfi 12:30.)
O orgulhoso não consegue aceitar que sua vida seja dirigida pela autoridade de Deus. (Vide Helamã 12:6.) Ele opõe sua percepção da verdade ao conhecimento maior de Deus; sua capacidade, ao poder do sacerdócio de Deus; suas realizações, às poderosas obras dele.
Nossa inimizade para com Deus assume muitos rótulos, como rebeldia, coração endurecido, obstinação, impenitência, soberba, suscetibilidade e incredulidade. Os orgulhosos querem que Deus concorde com eles. Não estão interessados em mudar de opinião para concordar com Deus.
Outro componente importante desse pecado predominante é a inimizade para com nossos semelhantes. Somos tentados diariamente a considerar-nos melhores que os outros e a diminuí-los. (Vide Helamã 6:17; D&C 58:41.)
Os orgulhosos fazem de todos os homens seus adversários, lançando seu intelecto, opiniões, obras, posses, talentos ou qualquer outros mecanismo de medida contra seus semelhantes. Nas palavras de C. S. Lewis: “O orgulho não se compraz em ter alguma coisa, somente em ter mais que o próximo... É a comparação que vos torna orgulhosos: o prazer de sentir-se acima dos outros. Tirando-lhe o elemento competitivo, desaparece o orgulho.” (Mere Christianity, New York: Macmillan, 1952, pp. 109-110.)
No conselho pré-terreno, Lúcifer apresentou sua proposta contra o plano do Pai, defendido por Jesus Cristo. (Vide Moisés 4:1-3.) Queria ser honrado mais que todos os outros. (Vide 2 Néfi 24:13.) Em suma, desejava, em sua soberba, destronar a Deus. (Vide D&C 29:36; 76:28.)
As escrituras estão repletas das graves conseqüências que o pecado do orgulho causou a pessoas, grupos, cidades e nações. “A soberba precede a ruína.” (Provérbios 16:18.) Causou a destruição do povo nefita e da cidade de Sodoma. (Vide Morôni 8:27; Ezequiel 16:49-50.)
Foi o orgulho que provocou a crucificação de Cristo. Os fariseus se enfureceram por Jesus declarar-se o Filho de Deus, o que ameaçava sua posição, e por isso tramaram sua morte. (Vide João 11:53.)
Saul tornou-se inimigo de Davi por orgulho. Ficou enciumado porque as mulheres israelitas saíram ao seu encontro cantando: “Saul feriu os seus milhares, porém Davi os seus dez milhares.” (1 Samuel 18:6-8.)
O orgulhoso teme mais o julgamento humano que o julgamento de Deus. (Vide D&C 3:6-7; 30:1-2; 60:2.) “O que os homens pensarão de mim?” pesa mais do que “O que Deus pensará de mim?”
O Rei Noé estava disposto a libertar o Profeta Abinádi, mas o apelo ao seu orgulho, por parte dos sacerdotes iníquos, mandou Abinádi para a fogueira. (Vide Mosias 17:11-12.) Herodes afligiu-se quando a esposa pediu que João Batista fosse decapitado, mas seu desejo orgulhoso de sobressair aos olhos “dos que estavam à mesa com ele” causou a morte de João. (Mateus 14:9; vide também Marcos 6:26.)
O temor do julgamento dos homens se manifesta na luta pela aprovação deles. O orgulhoso ama “a glória dos homens, (mais) do que a glória de Deus”. (João 12:42-43.) O pecado se manifesta nos motivos pelos quais agimos. Jesus disse que fazia “sempre” o que agradava a Deus. (Vide João 8:29.) Não faríamos melhor em ter o agrado de Deus por estímulo, do que procurar sobressair e fazer melhor que outra pessoa?
Certas pessoas orgulhosas estão mais preocupadas com o fato de seu salário ser superior ao de outra pessoa do que se o mesmo atende suas necessidades. Sua recompensa é estar um grau acima dos outros. Esta é a inimizade do orgulho.
Quando o orgulho toma conta de nosso coração, deixamos de ser independentes do mundo e escravizamos nossa liberdade ao julgamento humano. O mundo brada mais alto que os sussurros do Espírito Santo. O raciocínio humano prevalece sobre as revelações de Deus, e o orgulhoso larga a barra de ferro. (Vide 1 Néfi 8:19-28; 11:25; 15:23-24.)
Orgulho é o pecado que vemos facilmente nos outros, mas raramente reconhecemos em nós mesmos. Quase todos nós consideramos o orgulho como pecado de pessoas eminentes, como os ricos e os instruídos, olhando de cima para o resto de nós. (Vide 2 Néfi 9:42.) Existe, porém, um mal muito mais comum entre nós: o orgulho dos que de baixo olham para cima. Este se manifesta de inúmeras maneiras, como críticas, maledicência, difamação, resmungos, viver acima das posses, inveja, cobiça, recusar gratidão e louvor capaz de edificar outras pessoas, e mostrar-se insensível e invejoso.
A desobediência é basicamente o orgulhoso desafio a alguma autoridade superior. Pode ser a de um pai ou mãe, líder do sacerdócio, professor ou, sobretudo, Deus. A pessoa orgulhosa detesta o fato de que alguém esteja acima dela, achando que isto a rebaixa.
O egoísmo é um dos aspectos mais comuns do orgulho. “Como isto me afeta” é o centro de tudo que importa - presunção, autocomiseração, auto-realização mundana, satisfação própria e egoísmo.
O orgulho resulta em combinações secretas destinadas a obter poder, proveito e a glória do mundo. (Vide Helamã 7:5; Éter 8:9, 16, 22-23; Moisés 5:31.) Esse fruto do pecado do orgulho, isto é, as combinações secretas, derrubou a civilização jaredita e a nefita, e tem sido e ainda será a causa da ruína de muitas nações. (Vide Éter 8:18-25.)
Outro aspecto do orgulho é a contenda. Discussões, disputas, domínio injusto, divergências entre gerações, divórcios, maus tratos conjugais, motins e tumultos enquadram-se todos nessa categoria de orgulho.
Contendas na família afastam o Espírito do Senhor, como também muitos membros de nossa família. A contenda varia de uma palavra ofensiva a conflitos mundiais. Dizem-nos as escrituras que “da soberba só provém a contenda”. (Provérbios 13:10; vide igualmente Provérbios 28:25.)
As escrituras testificam que o orgulhoso se ofende facilmente e guarda ressentimento. (Vide 1 Néfi 16:1-3.) Ele se nega a perdoar a fim de manter o outro em débito e justificar sua mágoa.
Os orgulhosos não aceitam facilmente conselho ou repreensão. (Vide Provérbios 15:10; Amós 5:10.) Usam a atitude defensiva para justificar e racionalizar suas fraquezas e falhas. (Vide Mateus 3:9; João 6:30-59.)
Os orgulhosos dependem do mundo para dizer-lhes se têm valor ou não. Sua auto-estima depende de onde se encontram, pretensamente, na escada do sucesso mundano. Sentem-se dignos de mérito como pessoa se houver um número suficiente de indivíduos abaixo deles, em termos de realizações, talento, beleza ou inteligência. O orgulho é feio e diz: “Se tens sucesso, sou um fracasso.”
Se amarmos a Deus, fizermos sua vontade e temermos seu julgamento mais que o dos homens, teremos auto-estima.
O orgulho é um pecado amaldiçoador, no verdadeiro sentido da palavra. Ele limita ou impede o progresso. (Vide Alma 12:10-11.) Os orgulhosos não se deixam ensinar. (Vide 1 Néfi 15:3, 7-11.) Não mudam de idéia para aceitar verdades porque fazê-lo implicaria admitir seu erro.
O orgulho afeta negativamente todas as nossas relações – nossas relações com Deus e seus servos, entre marido e esposa, pais e filhos, empregador e empregado, professor e aluno, e toda a humanidade. Nosso grau de orgulho determina como tratamos nosso Deus e nossos irmãos. Cristo quer elevar-nos até onde ele se encontra. Será que desejamos fazer o mesmo com os outros?
O orgulho debilita nosso sentimento de filiação para com Deus e fraternidade para com o homem. Ele nos separa e divide em “classes” de acordo com nossas “riquezas” e “oportunidades de instrução”. (3 Néfi 6:12.) É impossível haver unidade num povo orgulhoso, e se não formos um, não somos do Senhor. (Vide Mosias 18:21; D&C 38:27; 105:2-4; Moisés 7:18.)
Pensai no que o orgulho nos custou no passado, e nos está custando hoje em nossa vida, nossa família e na Igreja.
Pensai no arrependimento possível em termos de vidas transformadas, casamentos preservados e lares fortalecidos, se o orgulho não nos impedir de confessar os pecados e abandoná-los. (Vide D&C 58:43.)
Pensai nos numerosos membros que se tornaram menos ativos na Igreja porque foram ofendidos, e o orgulho não lhes permitiu perdoar ou fartar-se plenamente à mesa do Senhor.
Pensai nas dezenas de milhares a mais de jovens e casais que poderiam estar cumprindo missão, se o orgulho não os impedisse de entregar seu coração a Deus. (Vide Alma 10:6; Helamã 3:34-35.)
Pensai no crescimento da obra do templo, se o tempo dedicado a esse serviço sublime fosse mais importante que muitos interesses orgulhosos que reclamam nosso tempo.
O orgulho afeta todos nós em diversas ocasiões e vários graus. Agora podeis ver por que o edifício representativo do orgulho, no sonho de Leí, era grande e espaçoso, e enorme a multidão que nele entrava. (Vide 1 Néfi 8:26, 33; 11:35-36.)
Orgulho é o pecado universal, o grande vício. Sim, o orgulho é o pecado universal, o grande vício.
O antídoto para o orgulho é humildade – mansidão, submissão. (Vide Alma 7:23.) É o coração quebrantado e o espírito contrito. (Vide 3 Néfi 9:20, 12:19; D&C 20:37; 59:8; Salmos 34:18; Isaías 57:15; 66:2.) Conforme tão bem o colocou Rudyard Kipling:
Morrem os gritos e o clamor,
Passa dos reis o vão poder,
Mas teu divino esplendor,
Há de viver, há de viver.
Teus mandamentos, ó Senhor,
Não nos permita esquecer!
(“Deus de Meus Pais”, Hinos, nº 58.)
Deus terá um povo humilde. Podemos escolher ser humildes ou podemos ser compelidos à humildade. Diz Alma: “Abençoados são os que se humilham sem a isso serem compelidos.” (Alma 32:16.)
Sejamos humildes por opção.
Podemos ser humildes voluntariamente vencendo a inimizade para com nossos irmãos, estimando-os como a nós próprios e alçando-os até onde estamos, ou mais alto ainda. (Vide D&C 38:24; 81:5; 84:106.)
Podemos ser humildes voluntariamente aceitando conselhos e punição. (Vide Jacó 4:10; Helamã 15:3; D&C 63:55; 101:4-5; 108:1; 124:61, 84; 136:31; Provérbios 9:8.)
Podemos ser humildes voluntariamente perdoando os que nos ofenderam. (Vide 3 Néfi 13:11, 14: D&C 64:10.)
Podemos ser humildes voluntariamente prestando serviço abnegado. (Vide Mosias 2:16-17.)
Podemos ser humildes voluntariamente saindo em missão e pregando a palavra capaz de tornar outros humildes. (Vide Alma 4:19; 31:5; 48:20.)
Podemos ser humildes voluntariamente indo mais freqüentemente ao templo.
Podemos ser humildes voluntariamente confessando e abandonando o pecado, e nascendo de Deus. (Vide D&C 58:43; Mosias 27:25-26; Alma 5:7-14, 49.)
Podemos ser humildes voluntariamente amando a Deus, fazendo sua vontade e dando-lhe prioridade em nossa vida. (Vide 3 Néfi 11:11; 13:33; Morôni 10:32.)
Sejamos humildes por opção. Nós podemos sê-lo. Sei que podemos.
Meus queridos irmãos, temos de nos preparar para redimir Sião. Foi essencialmente o pecado do orgulho que nos impediu de estabelecer Sião nos dias do Profeta Joseph Smith. Foi o mesmo pecado que decretou o fim da consagração entre os nefitas. (Vide 4 Néfi 1:24-25.)
O orgulho é a grande pedra de tropeço no caminho de Sião. Repito: o orgulho é a grande pedra de tropeço no caminho de Sião.
Temos de limpar o vaso interior vencendo o orgulho. (Vide Alma 6:2-4; Mateus 23:25-26.)
Temos de ceder “aos sussurros do Espírito Santo”, despojar-nos do “homem natural”, santificando-nos “pela expiação de Cristo, o Senhor”, e tornando-nos como “a criança, submisso, manso, humilde”. (Mosias 3:19; vide também Alma 13:28.)
Que assim procedamos e sigamos avante para cumprir nosso divino destino, é minha fervorosa oração em nome de Jesus Cristo. Amém.

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