Acreditar Em Cristo (Stephen E. Robinson, A Liahona, Abril 1992)
O maior dilema de todo o universo tem dois aspectos. Em Doutrina e Convênios 1:31 podemos ler a respeito do primeiro: "Eu, o Senhor, não posso encarar o pecado com o mínimo grau de tolerância". Isto significa que ele não o suporta; ele não pode piscar, ou olhar para outro lado, ou varrê-lo para baixo do tapete. Ele não pode tolerar o mínimo grau de pecado. O outro lado do dilema é expresso com muita simplicidade: eu peco, e vocês também.
Se essas fossem as únicas duas partes da equação, teríamos de concluir que, como seres pecaminosos, não podemos ser tolerados na presença de Deus.
Não é, porém, nisto que consiste toda a equação. A Expiação de Cristo é o plano glorioso que traz a solução do dilema. Gostaria de relatar-lhes algumas experiências vividas por minha própria família, que ilustram como a Expiação resolve este grande dilema.
Primeiro, uma história sobre meu filho, Michael, que fez algo de errado quando tinha seis ou sete anos. Ele é meu único filho. Quero que ele seja melhor do que foi seu pai, mesmo quando menino, e, assim, espero muito dele. Mandei-o, então, para o quarto, com a ordem de não sair de lá até que eu fosse buscá-lo.
Acontece que me esqueci. Algumas horas mais tarde, estava assistindo à televisão quando ouvi a porta do quarto dele abrir-se e passos hesitantes descendo as escadas. Eu disse: "Oh, não!" e corri para o hall, encontrando-o com os olhos inchados e lágrimas descendo-lhe pelo rosto. Ele olhou para mim — não estava bem certo se deveria ter saído — e disse: "Pai, nunca mais vamos ser amigos?" Naturalmente, abracei-o e disse-lhe o quanto o amava. Ele é o meu menino, e eu o amo, a despeito de qualquer coisa que tenha feito.
Como Michael, nós desapontamos nosso Pai, fazendo coisas que nos separam dele e de seu Espírito. Há ocasiões em que somos "mandados para nosso quarto", espiritualmente. Há pecados que nos machucam o espírito. Às vezes fazemos coisas que nos levam a sentir que nunca mais poderemos ficar limpos. Quando isso acontece, às vezes perguntamos ao Senhor, erguendo os olhos: "Ó, Pai, nunca mais vamos ser amigos?"
A resposta que podemos encontrar em todas as escrituras é um enfático "Sim, por meio da Expiação de Cristo". Eu, particularmente, gosto da maneira como isso é dito em Isaías 1:18: "Vinde então, e argüi-me, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve: ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã."
O Senhor está dizendo que, seja o que for que tenhamos feito, ele pode purificar-nos e tornar-nos dignos, inocentes e celestiais.
Agora, ter fé em Jesus Cristo não é simplesmente acreditar que ele é quem ele diz ser, ou crer em Cristo. Às vezes, ter fé em Cristo também significa acreditar no que ele diz.
Tanto como bispo, como professor na Igreja, aprendi que há muita gente que acredita que Jesus é o Filho de Deus e Salvador do mundo, mas que não acredita que ele possa salvá-los. Essas pessoas acreditam em sua identidade, mas não no seu poder para limpar, purificar e salvar. Ter fé em sua identidade é apenas metade do princípio. Ter fé em seu poder de purificar e salvar é a outra metade. Precisamos não apenas crer em Cristo, mas também acreditar em Cristo quando ele diz que pode purificar-nos e tornar-nos celestiais.
Quando eu era bispo, alguns membros me disseram: "Bispo, pequei de uma forma terrível. Não posso receber todas as bênçãos do evangelho, porque fiz isto, ou fiz aquilo, Continuo a freqüentar a Igreja e tenho esperança de receber alguma recompensa — mas não poderia receber a plenitude das bênçãos da exaltação no reino celestial, depois do que fiz."
Outros membros disseram: "Bispo, sou apenas um membro da igreja médio. Sou fraco e imperfeito, e não tenho todos os talentos do irmão (ou irmã) fulano ou beltrano. Nunca farei parte de um bispado, ou nunca serei presidente da Sociedade de Socorro. Sou apenas médio. Espero herdar um lugar um pouco mais baixo."
Essas afirmações são variações da mesma idéia: "Não creio que Cristo possa fazer o que afirma. Não tenho fé em sua capacidade de exaltar-me."
Um homem me disse: "Bispo, não sou material celeste". Bem, eu já ouvira o bastante, e perguntei: "Por que não admite seu problema verdadeiro? Não é material celeste? Bem-vindo ao clube. Nenhum de nós é. Sozinho, nenhum de nós é perfeito como precisaria ser para habitar na presença de Deus. Por que não admite que não tem fé que Cristo tem capacidade de fazer o que ele diz que pode fazer?"
Ele ficou zangado. "Tenho testemunho de Jesus", disse. "Creio em Cristo".
Respondi: "Sim, crê em Cristo, mas não acredita em Cristo quando ele diz que, mesmo não sendo material celeste, ele pode transformá-lo em material celeste, se cooperar com ele."
Por Que Ele É Chamado De Salvador
Às vezes o fardo da necessidade de perfeição nos desespera. Às vezes deixamos de acreditar na maravilhosa verdade do evangelho, de que o Senhor pode transformar-nos e levar-nos para seu reino. Gostaria de relatar-lhes uma experiência de dez anos atrás.
Minha mulher, Janet, e eu morávamos na Pensilvânia. As coisas iam indo muito bem. Eu fora promovido e era um ótimo ano para a nossa família. Para Janet, pessoalmente, porém, foi um ano difícil. Ela tivera nosso quarto filho, terminara a universidade, fizera exame para tornar-se contadora pública e fora chamada como presidente da Sociedade de Socorro da ala. Tínhamos recomendação para o templo e realizávamos as noites familiares. Eu estava servindo no bispado.
Então uma noite aconteceu algo à minha esposa que posso descrever apenas como "morrer espiritualmente". Ela não queria falar sobre o assunto nem dizer-me qual era o problema. Para mim, essa era a pior parte. Durante algum tempo ela não quis participar de nada espiritual e pediu desobrigação de seus cargos.
Finalmente, depois de duas semanas, ela disse: "Está bem. Quer saber qual é o problema? Vou dizer qual é. Não dá mais. Não consigo levantar-me às 05h30min da manhã e fazer pão, costurar, ajudar as crianças nas tarefas escolares, fazer meu próprio trabalho e o trabalho da Sociedade de Socorro, minha história da família, ir às reuniões de pais e mestres, e escrever aos missionários". E, uma por uma, ela foi mencionando as cargas que lhe haviam sido impostas.
Depois fez uma lista de suas falhas e imperfeições. Disse: "Não tenho o talento da irmã Morrell, não posso fazer o que faz a irmã Childs”.
“Tento não gritar com as crianças, mas perco o controle e acabo gritando. Finalmente reconheci que não sou perfeita e que nunca vou ser perfeita. Não vou conseguir chegar ao reino celestial e não posso fingir que vou. Por isso desisti. Por que me arrebentar, tentando fazer o que não consigo?"
Bem, começamos a conversar, e foi uma noite bem longa. Eu lhe perguntei: "Janet, tem um testemunho?".
Ela respondeu: "Claro que tenho! E isso que torna tudo tão terrível. Sei que é verdadeiro e não consigo fazê-lo".
"Cumpre os convênios que fez no batismo?".
Ela disse: "Tenho tentado e tentado, mas não consigo guardar todos os mandamentos o tempo todo".
Então eu me alegrei, porque percebi que o problema dela não era nenhuma das coisas terríveis que imaginara. É possível ser membro ativo da Igreja, ter testemunho de sua veracidade, ocupar cargos de liderança — e ainda perder de vista as "boas-novas" que estão no coração do evangelho. Fora isso que acontecera com Janet. Ela estava tentando salvar-se. Ela sabia por que Jesus era um conselheiro e um mestre. Ela sabia por que ele era um exemplo, o cabeça da Igreja, nosso Irmão mais velho, e até Deus. Ela sabia tudo isso, mas não compreendia por que ele era chamado de Salvador.
Janet tentava salvar-se, tendo Jesus como conselheiro, mas nós não podemos fazer isso. Ninguém é perfeito. Em Éter 3:2 lemos a respeito de um dos maiores profetas de todas as épocas, o irmão de Jared. Sua fé era tão grande que ele estava prestes a romper o véu e ver o corpo espiritual de Cristo. Contudo, quando começou a orar ele disse: "Agora, eis que, ó Senhor não te ires com teu servo, em virtude de sua fraqueza diante de ti; pois sabemos que és santo e habitas nos céus e que somos indignos diante de ti, e por causa da queda nossa natureza se volta ao mal continuamente; não obstante, ó Senhor, deste-nos o mandamento de invocar-te, para que de ti possamos receber de acordo com nossos desejos." (Éter 3:2.)
Naturalmente fracassamos no nível celestial. É por isso que precisamos de um salvador e recebemos ordem de nos aproximar de Deus e invocá-lo, a fim de recebermos o que desejamos. Disse o Salvador: "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos." (Mateus 5:6.) Com freqüência, interpretamos erradamente esta escritura. Achamos que ela diz: "Bem-aventurados os justos", mas não diz. Quando tendes fome? Quando tendes sede? Quando não conseguis o que desejais. Bem-aventurados são os que têm fome e sede da retidão de Deus, da retidão do reino celestial. Quando desejarem isto, seu desejo será atendido — eles serão fartos. Recebemos aquilo que desejamos.
Tornar-Se Um
Na mortalidade, a perfeição é alcançada apenas por meio da Expiação de Cristo. Não podemos consegui-la sozinhos. Precisamos tornar-nos um com o Senhor, que é um ser perfeito. Isto é o que o mundo dos negócios poderia chamar de fusão. Quando uma pequena firma, que está à beira da falência, se funde com uma grande corporação, o que acontece? O ativo e o passivo das duas companhias são reunidos e a entidade criada fica estabilizada financeiramente.
Quando Janet e eu nos casamos, eu estava com dificuldades financeiras, e Janet tinha dinheiro no banco. Quando nos casamos, abrimos uma conta conjunta. Não havia mais "eu", e não havia mais "ela" — agora, financeiramente falando, havia "nós". Meu passivo e seu ativo se uniram nesta conta conjunta, e, pela primeira vez em meses, minha conta ficou com saldo positivo.
Espiritualmente, é isto que acontece quando fazemos convênio com nosso Salvador. Temos passivo, ele tem ativo. Ele nos propõe um convênio. Eu uso o verbo propor intencionalmente, porque o que está sendo proposto é um tipo de casamento espiritual. É por isso que o Salvador é chamado de Noivo. Este convênio é tão íntimo que é descrito nas escrituras como um casamento. Torno-me um com Cristo, e, como sócios, trabalhamos juntos pela minha salvação. Meu passivo e seu ativo se unem. Faço tudo que posso, e ele faz tudo que ainda não posso fazer. Nós dois juntos somos perfeitos.
É por isso que o Salvador diz: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei" (Mateus 11:28). Existe carga mais pesada do que o imperativo da perfeição, a idéia de que precisais ser perfeitos nesta vida, para poderdes ter qualquer esperança na próxima? Existe carga mais pesada do que o jugo da lei?
"Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas", diz o Salvador.
"Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mateus 11:29-30).
"Confia Em Mim"
O profeta Néfi foi um dos grandes profetas, mas reconheceu sua necessidade e dependência do Salvador. Diz ele: "Oh! Que homem miserável sou! Sim, meu coração se entristece por causa de minha carne; minha alma está angustiada por causa de minhas iniqüidades. Estou todo rodeado de tentações e pecados, que tão facilmente me envolvem. E, quando desejo me alegrar, meu coração geme por causa de meus pecados" (2 Nefi 4:17-19).
Nefi compreendia sua condição mortal, a necessidade que tinha do Salvador para livrá-lo de seus pecados? Sim, e a resposta vem agora: "Não obstante, sei em quem confiei" (versículo 19).
Néfi sabia que era imperfeito. Seus pecados o incomodavam. Ele ainda não era celestial, mas sabia em quem confiava. Néfi confiava no poder de Jesus Cristo para purificá-lo de seus pecados e para levá-lo ao reino de Deus.
Eu tinha uma amiga que costumava dizer: "Calculo que minha vida esteja na metade, e que eu esteja na metade do caminho do reino celestial. Portanto, estou em dia."
Certa vez lhe perguntei: "Judy, e se morrer amanhã?" Foi a primeira vez que a idéia lhe ocorreu.
"Vamos ver", disse ela, "metade do caminho do reino celestial é . . . reino terrestrial. Isso não basta."
Precisamos saber que neste convênio que temos com o Salvador, se morrermos amanhã teremos esperança de alcançar o reino celestial. Essa esperança é uma das bênçãos prometidas no convênio. Muitos de nós, contudo, não entendemos essa esperança nem a aproveitamos.
Quando nossas gêmeas eram pequenas, decidimos levá-las a uma piscina pública para ensiná-las a nadar. Lembro-me de ter iniciado com Rebeca. Quando entrei na água com ela, estava pensando: "Vou ensinar Rebeca a nadar". Ela, porém, pensava: "Meu pai vai afogar-me. Eu vou morrer!" A água tinha apenas um metro de profundidade, mas Rebeca tinha apenas 90 cm de altura. Ela estava tão apavorada que começou a gritar e a chorar, a chutar e arranhar. Era impossível ensinar-lhe.
Finalmente, abracei-a com força e disse: "Rebeca, eu a estou segurando. Sou seu pai. Eu a amo. Não vou deixar que nada de mal lhe aconteça. Agora, relaxe." E ela confiou em mim. Relaxou, passei meus braços por baixo dela e disse: "Ótimo, agora bata as pernas." E ela começou a aprender a nadar.
Espiritualmente, há pessoas que estão igualmente amedrontadas por estas perguntas: "Sou celestial? Vou conseguir? Fui suficientemente bom hoje?" Ficamos tão aterrorizados pensando se vamos viver ou morrer, se vamos conseguir chegar ao reino celestial ou não, que não podemos fazer nenhum progresso. Nessas ocasiões, o Salvador, de certa forma, abraça-nos e diz: "Eu o estou segurando. Eu o amo. Não vou deixá-lo morrer. Agora relaxe e confie em mim." Se conseguirmos relaxar e confiar nele – e acreditar no que ele diz, além de crer nele –, então, juntos, poderemos começar a aprender a viver o evangelho. Aí ele dirá: "Ótimo, agora comece a pagar dízimo. Muito bem. Agora pague o dízimo integralmente." E nós começamos a fazer progresso.
Em Alma 34:14-16, lemos: "E eis que este é o inteiro significado da lei, tudo indicando aquele grande e último sacrifício; e aquele grande e último sacrifício será o Filho de Deus, sim, infinito e eterno. E assim trará a salvação a quantos acreditarem em seu nome, sendo a finalidade de seu último sacrifício despertar as entranhas da misericórdia, que sobrepuja a justiça, dando meios para que os homens possam ter fé e se arrepender. E assim a misericórdia pode satisfazer as exigências da justiça, e os envolve nos braços da segurança".
Os braços da segurança – essa é minha frase predileta no Livro de Mórmon.
Os santos dos últimos dias acreditam em "ser salvos"? Se fizer essa pergunta a meus alunos de religião, num certo tom de voz – "Acreditam em ser salvos?" –, sei que cerca de um terço deles sacudirá a cabeça e dirá: "Oh, não, não. As outras religiões crêem nisso." Que tragédia! É absolutamente certo que cremos em ser salvos. É por isso que Jesus é chamado de Salvador. De que nos vale ter um Salvador, se ninguém for salvo? É como ter um salva-vidas que fica sentado numa cadeira e diz: "Ora, lá está outro nadador se afogando. Ei, tente nadar de costas. Ora, que pena, ele não conseguiu." Temos um Salvador que pode salvar-nos de nós mesmos, das coisas que nos faltam, de nossas imperfeições, do indivíduo carnal que existe em nós.
Na visão que Joseph Smith teve do reino celestial, ele descreve as pessoas que lá estão nestes termos: "Esses são aqueles cujos nomes estão escritos no céu, onde Deus e Cristo são os juizes de todos. São os homens justos, aperfeiçoados através de Jesus, o Mediador do novo convênio." (D&C 76:68-69)
Homens e mulheres justos, bons homens e mulheres, aqueles que têm fome e sede de justiça, são aperfeiçoados por meio de Jesus Cristo, o Mediador do novo convênio.
Dar-Lhe Tudo Que Temos
Quando minha mulher e eu conversamos sobre o seu sentimento de imperfeição, e a sensação de que não conseguiria ser bem sucedida, lembrei-me de algo que acontecera em nossa família alguns meses antes. Chamamos esta experiência de parábola da bicicleta.
Certo dia, depois de chegar em casa, sentei-me para ler o jornal. Minha filha Sara, de sete anos, aproximou-se e disse: "Pai, posso ganhar uma bicicleta? Sou a única criança da rua que não tem uma bicicleta".
Bem, sabia que eu não tinha condições de comprar-lhe uma bicicleta, então tentei ganhar tempo, dizendo: "Claro, Sara".
Ela perguntou: "Como? Quando?"
Eu respondi: "Economize todos os seus centavos e logo terá o suficiente para comprar uma bicicleta.” Ela ficou satisfeita e saiu.
Algumas semanas mais tarde, sentado na mesma cadeira, percebi que Sara estava sendo paga por alguma coisa que fizera para a mãe. Ela entrou no outro quarto, e ouvi "clinc, clinc". Perguntei: "Sara, o que está fazendo?"
Ela saiu e mostrou-me um pequeno vidro com uma abertura na tampa e vários centavos no fundo. Ela olhou para mim e disse: "Prometeu-me que se eu economizasse todos os meus centavos, logo teria o suficiente para comprar uma bicicleta. E, pai, guardei cada um deles."
Meu coração se encheu de amor por ela, pois fizera tudo que estava ao seu alcance para seguir minhas instruções. Eu não havia realmente mentido a ela. Se economizasse todos os seus centavos, um dia teria o suficiente para uma bicicleta, mas, quando esse dia chegasse, ela iria querer comprar um carro! Suas necessidades não estavam sendo atendidas. Então eu disse: "Vamos à cidade olhar bicicletas."
Entramos em todas as lojas de Williamsport, Pensilvânia. Finalmente, nós a encontramos – a bicicleta perfeita. Ela subiu na bicicleta e ficou entusiasmada. Quando viu, porém, quanto custava, ficou muito triste e começou a chorar. Disse: "Pai, nunca vou ter o suficiente para comprar a bicicleta." Então perguntei: "Sara, quanto tem?"
Ela respondeu: "Sessenta e um centavos." "Bem, vamos fazer o seguinte", disse eu. "Dê-me tudo que tem, mais um abraço e um beijo, e a bicicleta é sua." Ela me deu um abraço e um beijo – mais os sessenta e um centavos. Paguei a bicicleta e depois tive que guiar para casa bem devagarinho, pois ela não quis descer da bicicleta; foi para casa pedalando na calçada. Enquanto eu a acompanhava com o carro, ocorreu-me que aquilo era uma parábola da Expiação de Cristo.
Todos nós desejamos algo desesperadamente – algo mais do que uma bicicleta. Desejamos o reino celestial. Queremos estar com nosso Pai Celestial; e não importa o quanto tentemos, não será suficiente. Em um dado momento percebemos: "Não consigo fazer isto!" Esse foi o ponto a que minha esposa, Janet, chegara. É nesse momento que experimentamos a doçura do convênio do evangelho, quando o Salvador propõe: "Está certo, tu não és perfeito. Dá-me tudo que tens, e pagarei o resto. Dá-me um abraço e um beijo – isto é, começa um relacionamento pessoal comigo – e farei o que falta."
Há notícias boas e há notícias más. As más são que ainda precisaremos fazer o melhor que pudermos. Precisamos tentar, trabalhar – fazer tudo que nos é possível. As boas notícias, contudo, são que, tendo feito tudo que pudermos, isso é suficiente – por enquanto. Juntos progrediremos nas eternidades, e por fim nos tornaremos perfeitos. Até então, seremos perfeitos apenas numa sociedade, num convênio com ele. Somente aproveitando sua perfeição poderemos ter esperança de nos qualificarmos.
Quando Janet e eu discutimos como isto funciona, ela finalmente compreendeu. Lembro-me de que ela disse, entre lágrimas: "Sempre acreditei que ele era o Filho de Deus. Sempre acreditei que ele sofreu e morreu por mim, mas agora entendo que ele pode salvar-me de mim mesma, de meus pecados, de minhas fraquezas, de minha falta de habilidade e talentos."
Quantos de nós nos esquecemos das palavras de Néfi: "Nenhuma carne pode habitar na presença de Deus, a menos que seja por meio dos méritos, misericórdia e graça do Santo Messias." (2 Néfi 2:8.)
Não há outra forma. Muitos de nós estamos tentando salvar-nos, mantendo a Expiação de Cristo afastada e dizendo: "Quando tiver conseguido, quando me tiver aperfeiçoado, quando me tornar digno – então serei merecedor da Expiação. Então permitirei que Cristo entre." Não podemos fazer isto. É o mesmo que dizer: "Quando eu estiver bem, tomarei o remédio. Então serei digna dele". Não é assim que a Expiação foi planejada.
Um de meus hinos prediletos diz: "Oh, doce, docemente, ele ama a todos nós. Devemos atender do Bom Pastor à mansa voz" ("No Monte do Calvário", Hinos, nº 113). Creio que uma das razões pelas quais amo tanto esse hino é porque ele mostra ambos os lados do convênio. Devemos atender à voz do Bom Pastor da melhor forma possível. Precisamos fazer tudo que pudermos; e, tendo feito tudo, devemos acreditar que ele nos ama a todos, e confiar em sua habilidade de fazer por nós o que ainda não podemos fazer.
Élder Bruce R. McConkie considerava isto como estar atrelado ao evangelho. Quando estamos atrelados ao evangelho, lutamos pelo reino com os olhos fitos nessa meta. Embora ainda não estejamos lá, podemos ter confiança de que, assim como essa é nossa meta na vida, também o será na eternidade. Por meio da Expiação de Cristo, podemos ter esperança de atingir essa meta.
Jesus Cristo é o Filho de Deus e o Salvador do mundo. Ele é nosso Salvador individual, bastando que entremos nesse glorioso convênio com ele, e que lhe demos tudo que temos. Seja sessenta e um centavos, um dólar e meio, ou dois centavos, nada devemos reter; precisamos dar tudo. E então, precisamos ter fé e confiança em sua habilidade de fazer por nós o que ainda não podemos fazer, compensar o que ainda nos falta em matéria de perfeição. Este é o jugo que é suave e a carga que é leve.
sábado, 16 de maio de 2009
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