Dissolvendo Ressentimentos e Alcançando o Perdão
por Frederick W. Babbel, 1982
“Exerçamos sempre o princípio de misericórdia, e estejamos prontos a desculpar nosso irmão quando se manifestam as primeiras indicações de que ele quer arrepender-se, e pedir perdão; e se absolvemos nosso irmão, ou até nosso inimigo, antes que se arrependa e se penitencie, nosso Pai Celestial será igualmente misericordioso para conosco.” (Joseph Smith, Jr., DHC 5:41)
Ressentimentos acumulados estão deformando ou destruindo a vida de milhões de pessoas em todo o mundo. A natureza dos ressentimentos é insidiosa. Geralmente eles causam mais destruição na pessoa que os abriga do que na pessoa contra quem esses ressentimentos são focalizados.
Quando nós nos agarramos aos ressentimentos, causamos um curto-circuito no poder glorioso e regenerador do perdão em nossa vida e retardamos a influência benigna nas vidas daqueles contra quem os ressentimentos estão focalizados.
A Chave para o Bem-Estar
Considerando este assunto vital, devemos lembrar que o amor é o cumprimento de todas as leis e os profetas. (Mateus 22:40). Superar ressentimentos requer amor Cristão. Do amor, cresce gratidão, ação de graças, bondade, ternura, humildade, mansidão, alegria e, acima de tudo, perdão. Estas são todas virtudes divinas através das quais podemos ser elevados. Podemos adquirir uma luz crescente até que não haja mais escuridão. “...e o corpo que é cheio de luz compreende todas as coisas.” (D&C 88:67) Que promessa gloriosa!
Por outro lado, dúvida, preocupação, ansiedade, medo, ódio, discussões, conflitos, disputas, contendas, busca de defeitos e ressentimentos vêm do ser maligno. Esses sentimentos de Satanás não têm associação com fé. Eles não têm relação com confiança. Eles são o oposto do amor. Lembre-se do Apóstolo Paulo que enfatizou esse fato a Timóteo: “Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, de amor, e de moderação.” (2 Timóteo 1:7)
Não podemos servir a Deus e a Mamon! Não podemos alimentar sementes da desconfiança, da suspeita, do ciúme, e outras — todos esses sentimentos originam-se da dúvida. Se fizermos isso, negamos a nós mesmos o poder de Deus que pode operar dentro e através de nós. Não podemos servir a dois senhores.
Você já imaginou por que você não recebeu uma benção que você desejou?
“Esforçastes-vos para crer que receberíeis a bênção que vos fora oferecida, mas eis que...havia temores em vosso coração, e...esta é a razão por que não recebestes.” (D&C 67:3)
Nós temos que livrar nossas mentes, nossos pensamentos, nossos sentimentos e nossas ações de todas as qualidades negativas. Ao entreter e cultivar esta negatividade em nossas vidas, estamos abrindo a porta para o adversário e abandonando nossa fortaleza divina e poder para ser usado por Satanás para o seu propósito declarado – nossa miséria e destruição definitiva. (2 Néfi 2:27)
O Poder do Perdão
Um dia, nos escritórios da Igreja, eu estava andando no corredor quando o Presidente Levi Edgar Young acenou para eu entrar em seu escritório. Quando eu entrei ele convidou-me para sentar e disse: “Irmão Babbel, se você tiver alguns minutos, eu gostaria de compartilhar com você uma experiência amável que tive agora.”
Ao sentar-me ele disse: “Você reparou naquele senhor idoso que ajudei a entrar agora no elevador?” Respondi afirmativamente.
Em seguida Presidente Young relatou-me a seguinte experiência. Aquele homem, que parecia estar nos seus oitenta anos, havia se aproximado dele naquela tarde, e o Presidente Young tinha identificado, a partir do inglês com sotaque, que ele era de origem alemã.
“Você é o Presidente Young?”, ele indagou. “Levi Edgar Young?”, foi a próxima pergunta. Presidente Young respondeu afirmativamente para as duas inquirições.
“Você foi um missionário de sua Igreja?” Presidente Young informou-lhe que ele já tinha servido em diversas missões.
“Você foi um missionário na Alemanha?”
“Sim, eu servi uma missão na Alemanha”, veio a resposta. “De fato, aquela foi minha primeira missão. Eu tinha aproximadamente dezenove anos.”
“Você trabalhou na cidade de Leipzig?”
“Sim, aquela foi a minha primeira área de trabalho.”
Então este homem idoso continuou: “Você se lembra de uma ocasião quando você estava batendo às portas do terceiro andar de um prédio de apartamentos? Quando você tentou dar a um homem um de seus folhetos e uma breve mensagem, ele ficou muito zangado. Ele golpeou você, jogou-lhe escada abaixo, e continuou a maltratar-lhe até que você chegasse à rua, onde deixou você deitado na sarjeta, machucado e sangrando. Você se lembra disso?”
Presidente Young disse-me, então, que teve de refletir sobre essa pergunta por algum tempo antes de poder relembrar o acontecimento.
Com lágrimas descendo por suas bochechas idosas, esse homem caiu de joelhos e suplicou: “Presidente Young, eu sou aquele homem. Eu esperei por mais de cinqüenta anos por este dia, quando eu talvez viesse aqui e pedisse o seu perdão pelo que eu fiz naquela época. Eu aceitei sua mensagem mais tarde e me tornei um membro da Igreja. Desde então tenho tentado fazer o que é certo. Eu estou vindo aqui agora para pedir o seu perdão.”
Recobrando o controle de seus próprios sentimentos, Presidente Young respondeu: “Claro, querido irmão. Eu perdôo você. Você não se lembra que eu me virei e perdoei você quando eu ainda estava deitado na sarjeta?”
Então, Presidente Young continuou: “Irmão Babbel, porque eu perdoei honestamente aquele homem – tão sinceramente como Jesus perdoou aqueles que o difamaram quando ele foi pendurado na cruz –, a memória daquele acontecimento tinha sido tirada de mim completamente. Até esse bom irmão trazer à minha memória, isso nunca tinha voltado a minha mente.”
Então ele compartilhou comigo este conselho esterlino: “Esta é uma das grandes lições que temos de aprender nesta vida. O Senhor disse: ‘Eu, o Senhor perdoarei a quem desejo perdoar, mas de vós é exigido que perdoeis a todos os homens.’ (D&C 64:10) É agradável a ele que nós perdoemos no momento em que um incidente semelhante ocorre.”
“Quando isto é feito,” ele concluiu, “a carga é retirada de sua pessoa e a influência da cura emana de você para fazer tudo certo. Por outro lado, se aquela pessoa que foi culpada da ofensa não procurar perdão, ele carregará o fardo, o qual sobrecarregar-lhe-á e afligir-lhe-á mais e mais com o passar dos anos. Que compaixão eu sinto por este irmão idoso, que viveu com sua consciência atormentada por mais de cinqüenta anos!”
Dissolvendo Ressentimentos e Alcançando o Perdão
Mais tarde enquanto eu estava morando na área de Portland, Oregon, recebi uma ligação urgente de um valioso amigo quem tinha estado acamado por quase um ano. Agora sua condição estava crítica. Quando eu cheguei em sua casa, eu o encontrei descansando no sofá da sala de estar. Sua esposa estava na sala de jantar ao lado, passando suas roupas de sepultamento.
Ele contou-me que o médico tinha informado, naquela tarde, que sua vida estava aproximando-se do fim e que tinha agora apenas um ou dois dias, ou talvez uma semana no máximo, até que finalmente morresse. Então ele comentou: “Uma coisa estranha a respeito de tudo isso é que os médicos ainda não sabem o que há de errado comigo. Eles apenas sabem que eu estou morrendo. Hoje à noite apenas senti que queria conversar com você antes de me preparar para encontrar com meu Criador.”
Enquanto continuamos nossa conversa, eu recebi uma divina introspecção sobre o que era seu problema real. “Irmão,” eu respondi, “acredito que sei o que está errado.”
Ele parecia assustado, mas genuinamente interessado, ao pedir: “Por favor, diga-me.”
“Você teve uma série de ofensas muito sérias e desapontamentos em sua vida, que têm preenchido você com ressentimentos amargos. Muitos deles nunca foram resolvidos.”
Ele parecia incrédulo e um pouco apreensivo enquanto inquiriu: “O que você sabe sobre isso?”
“Coisa nenhuma,” repliquei, “a menos que você me conte algo sobre isso. Eu apenas percebo que você foi machucado profundamente, muitas vezes. Todavia, você nunca perdoou aqueles que são responsáveis por essas ofensas.”
“Bem, eu devo admitir,” ponderou, “que tenho tido algumas experiências bem amargas. Mas, desde que aceitei o evangelho, acredito que poderia perdoar aqueles que foram responsáveis se eles pedissem o meu perdão.”
“Mas não é assim que funciona o princípio do perdão,” eu disse. “Quando qualquer sério agravo ocorre, o Senhor requer que perdoemos o culpado no momento em que ocorreu a infração, se possível.”
Eu relatei ao meu amigo a experiência que Presidente Levi Edgar Young compartilhou comigo anteriormente. Eu percebi que ele estava começando a entender a mensagem. Indaguei se ele já visitara a fazenda de cascavéis perto de Salem, Oregon, onde extraem veneno e processam latas pequenas de carne de cascavel para gourrmets aventureiros. Ele disse que tinha ouvido falar da fazenda, mas não tinha ido lá.
“Recentemente ouvi acerca de uma experiência que foi feita lá,” eu disse. “Um dos cuidadores de cobras pegou uma das suas maiores cascavéis e colocou um garfo bifurcado atrás da cabeça dela para que não pudesse se enrolar para atacar. Então ele começou a provocá-la com pintinhos e outras comidas. A cobra continuou tentando dar o bote sem sucesso, e bastante veneno pingou livremente de suas presas. Dentro de alguns minutos a cobra enrijeceu-se e morreu.”
“O cuidador de cobras comentou, então, que a cascavel pode resistir a quase qualquer coisa, exceto seu próprio veneno. Quando ela não pode descarregar o veneno tão rapidamente quanto está produzindo, ela morre de seu próprio veneno acumulado.”
Então eu sugeri ao meu amigo que sua própria condição era um tanto semelhante à daquela cobra: “Quando você tem qualquer ressentimento, dor, amargura, ou ódio em seu coração, apesar da causa, se você não se livrar de uma vez por meio do espírito do perdão, o ódio continuará a inflamar, crescer e aumentar, uma vez que é a lei básica da colheita. A menos que contidos, esses sentimentos negativos finalmente consumirão e destruirão a pessoa que os abriga. Isto é o que tem incomodado você, e o que, até agora, o tem levado a beira da morte.”
Meu amigo começou a soluçar abertamente. Enquanto o fazia, ele tirou sua camisa e mostrou-me suas costas despidas. Eu nunca tinha visto costas como aquelas, nem nos campos de concentração na Europa. Transversalmente em suas costas estavam grandes cicatrizes entrecruzadas que estavam incrustadas por cima de outras cicatrizes feias. Algumas delas estavam tão profundas que uma pessoa quase poderia colocar seu braço nelas.
Então ele relatou-me como ocasionalmente seu pai voltava para casa em um estado mesquinho, e bêbado. Ele encolerizava-se e pegava um pesado chicote de parede, e chicoteava quem estivesse ao alcance. Este chicote, um “gato de nove rabos”, era de couro com nove tiras. No final de cada tira estava fixada uma bola de latão com cravos de metal, o que poderia arrancar a pele de um animal.
Em uma ocasião, este meu amigo foi a vítima. Apenas com quatorze anos de idade naquela época, ele foi chicoteado até à inconsciência. Quanto tempo ele ficou no chão, ele não conseguia se lembrar, mas quando ele recobrou a consciência, ele se encontrava deitado numa poça de seu próprio sangue, com suas costas bastante dilaceradas. Ele conseguiu de algum modo arrastar-se para fora de casa, e prometeu, solenemente, que nunca retornaria.
Naquele ponto eu o interrompi: “Você tem cumprido aquela promessa, não é?”
“Sim,” ele respondeu.
“Você nunca perdoou seu pai por aquele chicoteamento, não é mesmo?”, eu perguntei.
“Não, eu suponho que não,” foi sua resposta. “Mas se papai viesse pedir meu perdão, eu acho que poderia perdoá-lo agora.”
“Estou preocupado,” eu disse, “por você ainda não ter entendido o princípio fundamental. Você tem tido a divina responsabilidade de perdoar seu pai desde o momento que você recobrou a consciência, para que o poder de cura do perdão pudesse agir em sua própria vida e aliviá-lo deste terrível fardo. Fazendo isso, talvez você tivesse começado o processo de cura para o seu pai também. Mas porque você tem continuado a nutrir esse ressentimento, isso tem inflamado e crescido, até estar literalmente consumindo você. Além disso, eu sinto que você ainda tem outros ressentimentos contra outras pessoas que igualmente nunca foram resolvidos. Estes estão acrescentando ao seu fardo e acelerando a sua morte prematura.”
Meu amigo então recordou numerosos outros casos, por todas as partes do Canadá, Montana e no Noroeste do Pacífico, nenhum dos quais tinha sido resolvido.
“Onde seu pai mora?”, eu perguntei.
“A última vez que eu soube, ele estava morando em Dakota do Norte,” meu amigo respondeu. “Eu não o tenho visto nem entrei em contato com ele por mais de quarenta anos.”
Quando terminamos a conversa, eu o convidei para sentar-se em uma cadeira para que eu pudesse dar-lhe uma bênção especial e delinear para ele o que devia ser feito. Na bênção, ele foi instruído a levantar-se da cama na manhã seguinte, pegar sua esposa e dirigir-se à casa de seu pai, em Dakota do Norte, com a certeza de que seu pai ainda estava vivo. Ele também foi instruído a dirigir-se às casas de todas as outras pessoas contra quem ele tinha ressentimentos, não importando onde elas morassem. Ele foi instruído a, em cada caso, pedir-lhes perdão por ter abrigado ressentimentos contra eles.
“Não vá lá tentar persuadi-los a implorar pelo seu perdão”, eu o admoestei. “Ou melhor, sua tarefa é pedir o perdão delas, por você ter falhado em fazer uma reconciliação nestes muitos anos.” A bênção delineou como ele iria buscar o perdão dessas pessoas. Além disto, eu o abençoei com as forças necessárias para realizar a tarefa com sucesso.
Mais ou menos quatro ou cinco semanas depois, meu amigo parou seu carro na entrada de nossa casa. Quando ele pisou fora do carro, eu o acolhi com “Irmão, você está bem agora, não está?”
“Sim”, ele respondeu, “eu não me sentia tão bem durante muitos anos.”
Ele então começou a relatar-me suas experiências. Ele contou-me ter encontrado seu idoso pai, que agora estava em seus oitenta anos e quase cego. Quando seu pai atendeu a porta, ele inquiriu em sua maneira brusca usual: “Quem é você?”
Meu amigo o informou que ele era seu filho. Ainda muito bruscamente, seu pai indagou: “E então, o que você quer agora?”
Meu amigo respondeu: “Papai, eu voltei para casa para pedir o seu perdão. Por anos eu tenho amargurado ressentimentos contra você pelo que você fez a mim quando eu era ainda um rapaz. Eu não tinha direito de guardar ressentimento contra você. Você pode perdoar-me por eu sentir esse rancor todos esses anos?”
Ele disse que seu pai pareceu pasmo por um momento. Quando ele desatou a chorar, jogou seus braços ao redor de seu filho, e soluçou: “Filho, sou eu que deveria ter buscado pelo seu perdão, mas não tive coragem. Você pode me perdoar?”
Depois meu amigo acrescentou: “Sabe, nós tivemos uma completa reconciliação. O espírito de paz e de perdão inundou ambas de nossas vidas. E depois tive uma experiência similar em todas as casas que visitei, como você ordenou-me a fazer em minha bênção. Hoje eu sou um homem feliz e saudável. Eu estou em paz comigo mesmo e com meu Senhor.”
Dentro de seis meses, meu amigo foi o terceiro melhor vendedor de uma grande companhia de seguros de vida. Um pouco antes do natal, ele e sua esposa foram chamados para servir em uma missão especial na Nova Zelândia. Mais de trinta anos depois, que eu saiba, ele ainda está muito vivo, desfrutando a vida e servindo seus semelhantes – este homem que estava destinado a morrer em 1951!
(...)
sábado, 16 de maio de 2009
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