Quero relembrar uma escritura que me impressiona. Está no capítulo 6 de Provérbios (vers. 16 a 19):
Estas seis coisas o Senhor odeia, e a sétima a sua alma abomina: (1) olhos altivos, (2) língua mentirosa, (3) mãos que derramam sangue inocente, (4) o coração que maquina pensamentos perversos, (5) pés que se apressam a correr para o mal, (6) a testemunha falsa que profere mentiras, e (7) o que semeia contendas entre os irmãos.
O Élder Marion D. Hanks contou o seguinte[1]:
Oscar Kirkham foi um dos grandes homens da Igreja (...). Serviu no Primeiro Conselho dos Setenta e era uma pessoa respeitada onde quer que estivesse. Freqüentemente, nas reuniões, ele pedia para dizer algo pessoal e quando lhe era dada a palavra, passava a dizer alguma coisa boa a respeito de alguém. Quase no fim de sua vida, ele fez um breve discurso na Universidade Brigham Young a respeito do tema: "Diga algo bom". Na manhã em que o Élder Kirkham faleceu, o Élder Hanks foi convidado à casa da família, onde lhe entregaram um pequeno caderninho no qual o Élder Kirkham fazia suas anotações. As duas últimas anotações eram: "Diga algo bom" e "Seu bom nome está seguro em nossa casa". (Ver Marion D. Hanks, prefácio a Oscar A. Kirkham, Say the Good Word, 1958, p. 4.)
Que bênção seria se todos seguíssemos esse conselho e o bom nome de cada um de nós estivesse seguro na casa das outras pessoas! Já perceberam como é fácil (...) procurar defeitos nos outros? Muitas vezes, procuramos desculpar-nos das mesmas atitudes que condenamos nas outras pessoas. Misericórdia para mim e justiça para todos os outros é um vício muito comum. Quando lidamos com o bom nome e a reputação de outra pessoa, estamos lidando com algo sagrado à vista do Senhor.
Talvez pensemos que aquilo que dizemos não chega a ser uma difamação, ou não chega a atentar contra a reputação da pessoa. Um irmão do meu pai pensava dessa maneira, também. Ele falava mal até das pedras e dos cães. Certo dia eu estava na casa dele quando ele começou a falar coisas muito ruins sobre o meu pai. Eu fiquei calado, não disse uma palavra sequer. Ele percebeu o meu desagrado e saiu com essa máxima racionalização de um detrator: “Eu não estou falando mal. Estou apenas comentando...” A propósito, a definição de detrator, no dicionário (detrator; detratar; detrair): Pessoa que deprecia o mérito, a reputação ou a fama de alguém; que diz o mal ou fala mal de alguém; murmurador.
Sejamos capazes de dizer Seu bom nome está seguro em nossa casa!
Diz-se que Diógenes, filósofo grego representante da escola do Cinismo, respondendo à pergunta “Qual dos animais tem a mordida mais nociva?”, teria dito: “Dos animais domésticos, o bajulador; dos animais selvagens, o caluniador.”[2]
Alguém pode até argumentar, como o meu tio Valdo, que está apenas comentando, ou que não profere calúnias, mas diz, sim, verdades. Quem diz isso, apenas dá nomes diferentes – ou eufemismos – a uma mesma realidade. Quando faço comentários depreciativos, ou externo apenas a minha visão dos fatos – parcial e sem as justificativas e razões da pessoa de quem falo –, enquadro-me, sim, na definição de Diógenes e não ajo orientado pela caridade.
Avaliemos nossos sentimentos em tais ocasiões. Sejamos sinceros em concluir quanto aos motivos que nos levam a “contar” ou “comentar” certos fatos. Intimamente, o que, no mais das vezes, nos leva a falar mal ou achar faltas uns nos outros é o orgulho – é o sentimento de inimizade, ou de rivalidade para com o nosso próximo.
Sejamos capazes de dizer Seu bom nome está seguro em nossa casa!
O princípio não é novo nem se restringe à nossa época. O livro de Salmos, no Velho Testamento, contém esta admoestação do Senhor: "Aquele que murmura do seu próximo às escondidas, eu o destruirei". (Salmos 101:5)
Tiago, em sua epístola, admoestou: "Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de um irmão, e julga a seu irmão, fala mal da lei, e julga a lei (...). Tu, porém, quem és, que julgas a outrem?" (Tiago 4:1112)
E nestes últimos dias, o Senhor renovou esse antigo mandamento em uma revelação dada por intermédio do presidente Brigham Young: "Cessai de falar mal uns dos outros". (D&C 136:23) Por meio do profeta Joseph Smith já fora dito: “Cessai de achar faltas uns nos outros”. (D&C 88:124)
Lembram-se da história de Bambi e de todos os seus amigos da floresta? Um dos melhores amigos de Bambi era um coelhinho chamado Tambor. Ele era um bom coelhinho, mas tinha um problema: sempre dizia coisas ruins a respeito das pessoas. Certo dia, Bambi estava na floresta aprendendo a andar e caiu. Tambor não resistiu à tentação e deixou escapar: "Ele não sabe andar muito bem, não é?" A mãe ficou zangada e disse: "O que seu pai lhe ensinou nesta manhã?" Tambor abaixou a cabeça, balançando-se de um lado para o outro, e disse: "Se não puder dizer algo bom, então não diga nada". Que bom conselho!
Sejamos capazes de dizer Seu bom nome está seguro em nossa casa!
Ao dar instruções aos nefitas, o Salvador ensinou: "Portanto tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-o também a eles (...)". (3 Néfi 14:12)
Trata-se de um comportamento nobre e constitui um alto nível de expectativa, mas Jesus não espera menos do que isso de nós. "Amai a vossos inimigos", disse Ele, e "bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem (. . .)". (Mateus 5:44)
Há um hino bem conhecido [em inglês] que reforça esses ensinamentos[3]:
Controla os teus sentimentos, irmão;
Treina a tua alma acalorada e impulsiva.
Mas não sufoca as emoções que dela brotam,
Antes, deixa a voz da sabedoria assumir o controle.
O Élder Joseph B. Wirthlin afirmou[4]:
Freqüentemente fico imaginando porque algumas pessoas pensam que devem criticar os outros. Isso vira hábito, acho que se torna tão natural para essas pessoas, que nem mesmo se dão conta do que estão fazendo. Criticam todos — a maneira como a irmã Maria rege a música, a maneira como o irmão Paulo dá a lição ou cuida do jardim.
Mesmo quando nós pensamos que não estamos fazendo mal a ninguém com nossos comentários críticos, as conseqüências existem. Lembro-me de um menino que entregou o envelope de doação ao seu bispo e disse-lhe que a doação era para ele. O bispo, usando esse momento para ensiná-lo, explicou que o menino deveria escrever no formulário de doação se ela era uma doação de dízimo, oferta de jejum ou alguma outra coisa. O menino insistiu que o dinheiro era para ele mesmo, o bispo. Quando o bispo perguntou porque, o menino respondeu: “Porque meu pai disse que você é um pobre bispo, dos mais pobres que já tivemos.” – (A conseqüência visível das críticas do pai é que o filho criticará como ele.)
A Igreja não é o lugar onde as pessoas perfeitas se reúnem para dizer coisas perfeitas, ter pensamentos ou sentimentos perfeitos. A Igreja é o lugar onde as pessoas imperfeitas se reúnem para proporcionar umas às outras, incentivo, apoio e serviço à medida que progredimos em nossa jornada de retorno ao nosso Pai Celestial.
Cada um de nós viaja em estradas diferentes nessa vida. Cada um progride em um ritmo diferente. As tentações que afligem nosso irmão podem não nos incomodar em nada. Nossos pontos fortes podem parecer impossíveis para uma outra pessoa.
Nunca despreze as pessoas que são menos perfeitas que você. Não se aborreça porque alguém não sabe costurar, lançar uma bola, remar ou capinar tão bem quanto você.
Somos todos filhos de nosso Pai Celestial. Estamos aqui nesta Terra (também com o objetivo de aprender a) amar nosso próximo como a nós mesmos.
Uma maneira para medir nosso valor no reino de Deus é perguntar: “Como estou-me saindo em ajudar o próximo a alcançar seu potencial? Eu apoio os outros na Igreja ou sempre os crítico?”
Se você critica os outros, enfraquece a Igreja. Se você edifica o próximo, edifica o reino de Deus. Assim como o Pai Celestial é bondoso, devemos ser bondosos com os outros.
Sejamos capazes de dizer Seu bom nome está seguro em nossa casa!
Na seção Perguntas e Respostas da Liahona de outubro de 2008, foi proposta a seguinte questão: O que posso fazer para vencer o mau hábito da fofoca (e das críticas e de achar faltas uns nos outros)? A edição da revista propôs:
Você pode vencer a tendência de falar mal das pessoas seguindo os conselhos de Para o Vigor da Juventude relativos ao linguajar de baixo calão: “Ajudem os que estão a sua volta a empregarem uma linguagem adequada por meio de seu exemplo, encorajando-os positivamente a escolher outras palavras. Afastem-se educadamente ou mudem de assunto quando quem estiver perto de vocês usar um linguajar inaceitável. Caso tenham desenvolvido o hábito de blasfemar [ou falar mal das pessoas], vocês poderão vencê-lo. Iniciem tomando a decisão de mudar. Orem pedindo ajuda. Se começarem a empregar palavras que saibam ser erradas, fiquem em silêncio ou digam o que têm a dizer de maneira diferente”. O livreto também explica por que é importante falar bem dos outros: “Falem bondosa e positivamente sobre os outros, para que possam cumprir o mandamento do Senhor de amar uns aos outros. Ao empregar uma boa linguagem, estão convidando o Espírito para estar com vocês” [“Linguagem” (2002), pp. 22–23]. Ser bondoso na comunicação é o que Cristo faria e vai ajudá-lo a ter melhor relacionamento com as pessoas e a se sentir melhor consigo mesmo.
Um jovem do Camboja sugeriu:
Há três grupos envolvidos nas fofocas: nós mesmos, os que ouvem e as pessoas sobre quem falamos. Faça o convênio de parar de espalhar mexericos e cumpra-o. Eis um antídoto contra a fofoca: (1) Mude de assunto quando seus amigos começarem a falar mal de alguém. (2) Fique calado para que não tenham com quem conversar. (3) Diga-lhes com franqueza que “não [falem] mal uns dos outros” (Tiago 4:11).
Uma jovem das Filipinas sugeriu:
Para evitar a maledicência, podemos memorizar uma passagem das escrituras como Levítico 19:18, que nos ensina a amar o próximo como a nós mesmos e recitá-la mentalmente a cada vez que estivermos prestes a começar um mexerico. Podemos também memorizar uma música como “Eu Quero Ser Como Cristo” (Músicas para Crianças, pp. 40–41) e cantá-la mentalmente. Outra idéia é dizer duas coisas boas sobre a pessoa. Dessa forma, você esquecerá os pontos fracos dela e, em vez disso, perceberá o que ela tem de bom.
Citou-se, então, o Pres. David O. McKay:
Evitemos a maledicência, a difamação e os mexericos. Trata-se de veneno para a alma dos que se entregam a tais práticas. A maledicência prejudica mais o autor do que a vítima. (Conference Report, abril de 1969, p. 96.)
De fato, o veneno maior está no coração do crítico, que não consegue amar como Cristo ama, que infla o balão do seu orgulho, a sua inimizade e rivalidade para com os seus irmãos. Falando da comunicação de Deus conosco, por meio do Espírito Santo, o Pres. Harold B. Lee disse[5]:
Se estivermos preocupados com algo ou aborrecidos, não receberemos inspiração. Mas caso vivamos de modo a deixar nossa mente livre de preocupações, conservar nossa consciência limpa e nutrir sentimentos corretos uns para com os outros, a ação do Espírito do Senhor sobre nós será tão real quanto se estivéssemos falando com alguém ao telefone.
Sejamos capazes de dizer Seu bom nome está seguro em nossa casa! E nos lembremos do conselho de Salomão, em Provérbios (26:20): "Sem lenha, o fogo se apaga; e, não havendo maldizente, cessa a contenda". "Se não puder dizer algo bom, então não diga nada".
[1] Apud Élder Cree-L Kofford, Seu Bom Nome Está Seguro em Nossa Casa, Conferência Geral de abril de 1999.
[2] Apud “O Milagre do Perdão”, p. 54.
[3] “School Thy Feelings”, Hymns, n. 336
[4] A Virtude da Bondade, Conferência Geral, abril de 2005.
[5] Ensinamenos dos Presidentes da Igreja – Harold B. Lee, p. 183.
sábado, 16 de maio de 2009
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